Rodrigo Bispo no Baixo e Plácido Oliveira, em Sousa-PB (2014). Foto: Emerson Marvin |
A ideia da Distintivo Blue surgiu por volta de julho de 2009 em Vitória da Conquista-BA, quando Plácido Oliveira convida Rômulo Fonseca e Camilo Oliveira, ex-colegas da extinta banda The New Old Jam, para iniciar um projeto de blues. Como é difícil encontrar músicos de blues na região, escolheram manter o formato acústico (voz, gaita, 2 violões) enquanto procurariam outros integrantes. Fizeram alguns ensaios usando o nome provisório de Bluenote Band até que Rômulo deixou a banda, quando o nome Distintivo Blue já havia sido adotado.
Como uma dupla era ainda mais difícil fazer o projeto seguir em frente. Plácido decidiu então chamar alguns músicos do cenário rock da cidade para fazer uma experiência. Entraram então Fernando Bernardino (guitarra), da Rádio Zero e posteriormente Os Barcos, Dieguinho (baixo), da Ladrões de Vinil e Garboso e Thomaz Oliveira (bateria), da The New Old Jam e Café com Blues. O primeiro show foi no dia 22 de janeiro de 2010. Logo depois, Camilo decide deixar o grupo. Thomaz, que apenas faria o primeiro show, também não continua com o grupo, sendo substituído por Rauni Nau (Signista e Tombstone) por um breve período, deixando vago o posto.
Logo após o primeiro show gravam a música Luar do Pontal, de autoria de Plácido, composta para a The New Old Jam, mas nunca executada. A música entra para o CD Máfia da Mortadela, uma coletânea de bandas de blues brasileiras com músicas em português, sendo, a DB, a única representante de fora do eixo Rio-São Paulo. Com essa música a banda tornou-se mais conhecida fora da sua cidade que dentro. Ainda hoje diversas rádios pelo Brasil a executam, graças também ao consistente trabalho de divulgação pela internet.
Encontrar integrantes certos para a DB sempre foi o maior desafio. Muitos músicos leigos no estilo consideram o blues fácil de tocar mas, quando se deparam com a realidade, descobrem que sem feeling não existe blues. Durante todo o ano de 2010 a DB trocou de músicos várias vezes, principalmente pela carência de músicos de blues da região.
Ao final de 2010, Rômulo retorna ao grupo. Entra, pouco depois, Júnior Damaceno (assassinado em setembro de 2011) no baixo e Camilo Oliveira também retorna, fazendo com que a formação original da DB esteja de volta, 1 ano depois. Mais três músicas são gravadas: Extempore Blues, instrumental de Rômulo Fonseca, De Cara no Blues, de Thomaz Oliveira, que seria a primeira da The New Old Jam a ser gravada (com a participação de Bob Charles, da TNOJ, no teclado), e Blues do Covarde, de Plácido, com uma irônica crítica às pessoas de má vontade.
Em 2011 é lançado o primeiro EP da banda: Aplicando a Lei foi apresentado ao mundo no programa O Som da Tribo, já com Rodrigo Bispo no baixo. Em mídia de mini-CD e edição limitada e numerada (apenas 110 cópias) possuía uma faixa multimídia contendo material exclusivo para cada unidade, fazendo com que cada CD fosse único e essencialmente artesanal. Posteriormente o EP foi relançado em formato SMD patrocinado pelo BNB / BNDES. Também nesse ano foi lançada a zine BLUEZinada!, distribuída gratuitamente até hoje em shows, com o objetivo de trazer a banda para mais perto do público, bem como o blues e o jazz.
Em 2012 é a vez do EP Riffs, Shuffles, Rock N' Roll, contendo a aclamada faixa Na Trilha do Blues (que participou do X Festival de Música Educadora FM e integrou a segunda edição do CD Máfia da Mortadela). Foi um valioso processo de amadurecimento da banda, que ainda sofria com as constantes alterações na formação, especialmente de baterista. Após o lançamento do EP, a banda passou a se apresentar em formato acústico, com Plácido Oliveira na voz e cajón, até a chegada de Weslei "Corega" Lima, que se manteve no grupo até 2015. Também foi integrado o naipe de metais, com Horton Macedo (sax), Daniel Novaes (trompete) e Paulinho do Trombone.
Em 2013, o grupo sentiu o peso de se fazer blues no interior da Bahia. Com pouca expectativa para o futuro e decepcionados com o excesso de politicagem e jogos de interesse em que o cenário cultural é imerso, a banda decide encerrar suas atividades. Antes, porém, gravam e lançam o single 2012, Miopia, que levou a banda ao X Festival de Música da Bahia apenas com uma gravação tosca de um ensaio, feita em celular. Após o lançamento, a DB lançou uma nota anunciando seu fim, o que não passou despercebido pelo futuro baterista da banda, Nephtali Bitencourt, então apenas um fã distante da banda.
Ainda em 2013 o grupo retorna, fazendo uma série de shows acústicos e compondo músicas novas incansavelmente. A pausa se revelou saudável e construtiva. O grupo lançou o EP Orgânico, totalmente acústico, com músicas inéditas, versões diferentes de já conhecidas e até mesmo um cover do Creedence Clearwater Revival. O destaque foi a canção Doze Horas, mostrando que a DB não se apega a rótulos, revelando uma banda mais madura e com fortes influências do southern rock. Trata-se de um disco "de espera" enquanto não fosse produzido o próximo disco de estúdio, para que os fãs não ficassem desamparados por tanto tempo. A ideia foi ser o mais econômico possível, gravando todas as faixas de uma vez e levando para mixar em casa. Tosco, mas orgânico!
Este foi, também, o ano da primeira turnê da banda. Os Joes percorreram diversos estados do nordeste percebendo o quanto seu trabalho é valorizado fora de casa. Isso deu um ânimo extra para que planejassem mais turnês e até mesmo uma mudança para outra região do país, onde seu estilo seja mais bem-aceito. Antes da viagem, Camilo Oliveira deixa a banda mais uma vez, para se dedicar ao seu mestrado em biologia. Em seu lugar entra Lavus Bittencourt, amigo de longa data, recém-saído da Ladrões de Vinil.
Em 2015, Weslei Lima também deixa a banda, para se dedicar à profissão de educador físico. Entra o baterista Nephtali Bitencourt, fã e amigo que, antes de ser convidado para se tornar membro fixo, participa de alguns ensaios e grava o álbum Todos os Dias, Vol. 1. O disco trazia músicas inéditas, versões elétricas de algumas faixas do Orgânico e mostra um maior amadurecimento na identidade do grupo.
Em 2016 a DB lança seu primeiro trabalho audiovisual, o lyric video de 2012, Miopia, produzido por Thomaz Oliveira. Pouco tempo depois grava, simultaneamente, os clipes de Na Trilha do Blues e Ame a Solidão, sendo que o segundo seria lançado apenas em 2017. Após as gravações, Rômulo Fonseca deixa o grupo para se dedicar à faculdade de pedagogia. A banda se firma como um quarteto, com Plácido assumindo, definitivamente, violão, guitarra, gaita e theremin, complementando a guitarra de Lavus.
Plácido passa a se dedicar ao estudo do music business, com cursos, livros e uma crescente busca por conhecimento. A ideia era tornar a DB uma empresa capaz de dispensar aos integrantes a necessidade de exercer outras atividades. Nesse ano surge o site da BLUEZinada!, continuando o trabalho de divulgação do blues já exercido desde 2010 pelo site da banda, para evitar mal-entendidos sobre o que exatamente seria a Distintivo Blue: muitos artistas entravam em contato confundindo a banda com uma equipe jornalística. Com a separação do conteúdo entre o site da DB (que passou a ter conteúdo unicamente da própria banda) e o da BLUEZinada!, tornou-se claro que tratava-se de uma banda autoral que produzia conteúdo sobre blues, de forma paralela.
Ainda em 2016 a banda lançou, em parceria com uma cervejaria local, sua própria American IPA, iniciando o projeto de tornar a DB uma marca com diferentes produtos atrelados. Ao mesmo tempo foi lançado o BLUEZinada! Podcast, programa mensal com a mesma temática da zine e do site, produzido e apresentado por Plácido. Foi lançada a série de vídeos CCCJL Sessions, com o objetivo de criar material audiovisual ilustrando as performances ao vivo do grupo, com as músicas autorais já conhecidas, inéditas e covers. Tudo bem experimental.
A terrível crise político-econômica que assombrou o Brasil nesse período atingiu a todos: as pessoas passaram a cortar gastos, o que afetou bares, casas de show e, consequentemente, a classe dos músicos. Tornou-se cada vez mais difícil manter o equilíbrio da banda entre o final de 2016 e o início de 2017: Lavus Bittencourt anunciou sua saída para se mudar para a capital do estado e se dedicar ao ensino de kung fu. O grupo chegou a ensaiar com outros guitarristas, inclusive Camilo Oliveira, que chegou a se apresentar ao vivo algumas vezes, substituindo aquele que foi seu próprio substituto. O subprojeto mantido por Plácido e Lavus (Diglett Joes) inevitavelmente também entra em suspensão.
Antes mesmo de a banda ficar sem guitarrista, Rodrigo Bispo no Baixo e Nephtali Bitencourt anunciam que não só deixariam a DB como deixariam a música para se dedicar às suas profissões originais. Plácido passa a ser oficialmente o único integrante, com a missão de reerguer o grupo ou também desistir. Sem colegas e numa cidade altamente desfavorável ao blues, não houve outra escolha senão fazer o segundo hiato da Distintivo Blue. A parceria da cerveja também mostrou-se insustentável e foi encerrada.
A DB enfrenta, então, seu maior estado de hiato: a movimentação nas redes sociais diminuiu consideravelmente e Plácido seguiu se apresentando sozinho com seu violão, com a decisão de não mais investir tempo e energia numa nova formação em sua cidade-natal. A sensação de frustração e angústia por se perceber como a única força realmente interessada na sobrevivência do projeto o faz passar por longas reflexões. Ainda assim, em 2017 é lançado o segundo álbum da Distintivo Blue, Shut Up!, apenas com músicas originalmente instrumentais e versões instrumentais de músicas já conhecidas pelo público. A BLUEZinada! seguiu suas atividades até 2018, quando Plácido anuncia o fim das atividades e decide não renovar o domínio do site (bluezinada.com.br), realocando-o como subdomínio do site do Distintivo Blue (http://bluezinada.distintivoblue.com) como forma de corte de gastos enquanto iniciava sua nova empreitada, retornando ao universo acadêmico após quase dez anos, quando se licenciou em História.
A música, entretanto, nunca o deixa. Continua se apresentando regularmente sozinho em bares da cidade ou acompanhando outros músicos ao cajón e fazendo backing vocal, compreendendo a necessidade de não se permitir atrofiar. Por vezes, se apresenta com Camilo Oliveira (Bluenote Joes) e Rômulo Fonseca (The New Old Joes) em formato acústico, sempre ao cajón e cantando. Ainda neste ano, produz sozinho e lança o lyric video de Charity and Mercy, com o enorme acervo de imagens que acumulou desde o início da banda, percebendo, pela primeira vez, ser capaz de traduzir melhor suas ideias sobre a banda sozinho do que quando trabalha com estúdios ou pessoas contratadas, compensando a deficiência técnica com feeling. Este pensamento retornaria à tona, dois anos depois.
Em 2019, integra, com Camilo Oliveira e Nephtali Bitencourt, a banda The JackHammers, com a intenção de desenvolver novas habilidades: aqui, Camilo era o vocalista principal e Plácido assumia o contrabaixo (o mesmo Squier Jazz Bass que pertencera a Rodrigo Bispo e aparece em todos os videoclipes da DB) e faria algo que sempre sentiu vontade: ser um backing vocal ao invés de um frontman. No repertório, clássicos do rock, blues e algumas canções em inglês da Distintivo Blue, compostas por Camilo, como NJJJ, Bucking Blues & Some Perky Loonies e Charity and Mercy. Após algumas apresentações, o interesse de todos pelo projeto mostra-se passageiro e todos se dispersam, mais uma vez.
Entretanto, houve energia para uma nova tentativa de registro autoral: Bucking Blues... e NJJJ eram faixas já tocadas pela banda desde 2014, e os três Jackhammers decidiram entrar em estúdio para impedir que caíssem no esquecimento. Nephtali, entretanto, desiste de participar, pouco antes das primeiras sessões. Plácido e Camilo decidem entrar no estúdio mais econômico possível para gravar. Os vídeos das CCCJL Sessions são passados a um baterista contratado, que executa com grande fidelidade à referência deixada por Nephtali, mesmo sem nunca ter encontrado pessoalmente algum dos Joes. Camilo grava todas as guitarras e violões. Plácido grava todos os baixos, vozes e percussões. O resultado é lançado como Rockin' 10 Years Later, em comemoração aos dez anos do primeiro show da DB. Na capa, uma foto de Nephtali em uma Opala Caravan preta, em frente à casa de LudoBlues, tirada por Plácido em uma das reuniões de 2015-16. A sonoridade das músicas parece pouco orgânica, mas conserva todos os arranjos básicos desenvolvidos desde 2014, para uma possível futura nova formação utilizar como referência.
O lançamento se dá quase simultaneamente ao início da pandemia de COVID-19 no Brasil, que demonstrou, dentre inúmeros fatores, algo que Plácido já vinha sentindo na pele desde 2012: a fragilidade do setor de entretenimento, em especial o da musica no Brasil. Com o advento do #fiqueemcasa, o artista consegue se manter graças à bolsa do mestrado que acabara de iniciar. A profissão "músico", que tanto lutara para conquistar, passa a ser possível apenas a artistas de renome, através de suas lives e grandes arrecadações. Aos artistas independentes, restava buscar alternativas e receber apoio de editais de cultura lançados pelos governos, bem como programas de distribuição de renda.
O tempo de isolamento serviu para prosseguir às reflexões acerca da sua relação com a música enquanto profissão, que vinham desde 2016. Chegando à conclusão de que a Distintivo Blue nunca passara de um sonho da sua própria cabeça e que nenhum dos demais integrantes chegara a levá-la realmente a sério, toma a tão adiada decisão de deixá-la para trás. Em seu lugar, pensa pela primeira vez em uma carreira solo, compreendendo também ser ilusório pensar em abandonar a música: todo músico que tenta se distanciar, mais cedo ou mais tarde acaba sofrendo alguma "crise de abstinência", voltando aos palcos, geralmente temporariamente (como aconteceu com a JackHammers e a própria DB, através de alguns integrantes).
O nome escolhido foi o autoexplicativo Joe Malfs Clan: em referência aos clássicos apelidos de todos os integrantes da DB (os Joes), este seria o "clã super-restrito" de Plácido/Joe. Tão restrito que incluía apenas a si mesmo, o único que não o abandonaria. Teve início após uma inesperada proposta de Lavus Bittencourt de gravarem Na Trilha do Blues remotamente, um em Salvador e outro em Vitória da Conquista. Chegaram a gravar a guia (uma batida simples ao violão, dentro do metrônomo, que serve de referência a todos os demais instrumentos no processo de gravação), mas logo foi abandonado justamente por quem propôs a ideia. Plácido, agora utilizando o pseudônimo Joe Malfs, seguiu adiante, gravando todos os instrumentos sozinho, para se testar. Percebendo ser possível, lança, ainda durante o confinamento, o single Na Trilha do Blues, com os instrumentos disponíveis (violão, guitarra, baixo, cajón, gaita e objetos domésticos como percussão). Também se preocupou em filmar as etapas de gravação, com o objetivo de produzir um videoclipe. A ideia era registrar o seu pequeno e claustrofóbico universo durante o confinamento. Como já fizera anteriormente, aproveitou para lançar, ainda, a versão Shut Up! da canção, sem vozes.
Durante a pandemia, tentou aderir à onda de lives, participando de festivais virtuais e propondo aos ex-colegas que se apresentassem remotamente, através do canal da Distintivo Blue no YouTube e Instagram. Percebeu os efeitos negativos de parar de cantar: o atrofiamento da extensão vocal, a insegurança, dores nas mãos, etc. o que se percebe claramente nas gravações da época. Ainda em 2020, grava uma canção autoral que chegara a ser executada em shows nos últimos momentos da banda ativa, O Andarilho, porém, em uma roupagem completamente diferente do country que apresentara aos Joes em 2016. A ideia era disputar o Festival de Música da Rádio Educadora, de Salvador, por isso deveria caber em um limite de tempo determinado, o que influenciou no tempo escolhido para a gravação. A pandemia já se mostrava um pouco menos dramática, e foi possível sair às ruas para captar imagens. Também foi pedido nas redes sociais que as pessoas enviassem vídeos de animais de rua para compor o lyric video que produziria, nos moldes do anterior. A canção não foi escolhida pelo festival, mas chegou a ser exibida na televisão e em eventos acadêmicos.
Em 2021, Plácido/Joe Malfs grava mais um vídeo da canção, para um edital de incentivo cultural, executando em voz e violão. Enquanto isso, retorna, aos poucos e cautelosamente, a se apresentar presencialmente, em bares da cidade, sozinho ou com outros músicos, inclusive retomando, esporadicamente, o subprojeto Bluenote Joes, com Camilo Oliveira. Ao mesmo tempo, seguia seus estudos, simultaneamente em sua segunda graduação, iniciada em 2018, em Direito, e em seu mestrado em Memória, pesquisando a cena rock local e desenvolvendo seu projeto de pesquisa independente, chamado Memória Musical do Sudoeste da Bahia, utilizando a experiência construída durante os tempos de BLUEZinada!.
Em 2022, se junta novamente a Rômulo Fonseca e Camilo Oliveira para algumas apresentações no mesmo formato que iniciaram a Distintivo Blue em 2009, com cajón e violões. Neste ano, em comemoração aos 12 anos de banda (em referência ao whiskey envelhecido 12 anos, típico dos blueseiros), gravaram doze vídeos neste formato, sendo que a maioria ainda não foi lançada. Percebendo que o desinteresse dos colegas ainda era evidente e a iminência de mais uma decepção, decidiu não mais chamar a reunião de Distintivo Blue, mas sim de Original Joes, preservando o nome de mais equívocos e perda de tempo. É quando percebe não haver sentido em abandonar um nome com tanta história para iniciar um novo praticamente do zero (Joe Malfs Clan), sobretudo quando for preciso apresentar um portfólio consistente para certas apresentações, em especial em feiras literárias e eventos promovidos pelo Poder Público. Assim, decide assumir, definitivamente, como Distintivo Blue o nome de seu projeto musical de vida, deixando de referir-se "ao" (projeto) Distintivo Blue como "a" (banda) Distintivo Blue. Ao mesmo tempo, inicia-se no doutorado em Memória, aprofundando ainda mais a pesquisa sobre a música local.
No final de 2022, após grande insistência do baterista Nephtali Bitencourt (que chega até mesmo a comprar uma nova bateria), decide retomar o Distintivo Blue como grupo, voltado a apresentações, sem esquecer o conceito que acabara de definir: o DB enquanto o projeto artístico pessoal que sempre fora, ao contrário de uma ilusão desgastante e danosa sobre iniciativas coletivas. Assim, convida os guitarristas Paul Bergeron, com quem vinha se apresentando nos últimos meses e, ao início de 2023, o multi-instrumentista Weldon França, da geração do rock conquistense nos anos 1980, conhecido, dentre vários projetos, pela extinta banda Zé dos Cafés.
A Jackhammers mostrou ser possível cantar e tocar contrabaixo simultaneamente. Em um projeto tão pessoal, o contrabaixo permite uma melhor regência do grupo, uma vez que é a base harmônica e melódica de qualquer banda. Assim como aconteceu em 2010, quando o Distintivo Blue sofreu com a falta de baterista e Plácido viu-se obrigado a aprender a cantar e tocar cajón simultaneamente, 2023 traz este novo desafio ao inquieto músico. A tentativa de recriação, entretanto, revela-se mais do mesmo, não evoluindo, inspirando o artista a buscar outras possibilidades de atuação para trazer de volta o Distintivo Blue aos palcos, Muitas novas canções não-gravadas aguardam pelo devido registro e a inauguração desta nova fase do projeto, desvinculada do tão penoso passado.
As próximas gravações seguirão o modelo do Joe Malfs Clan, com uma maior preocupação com a expressão artística que com a adequação aos padrões técnicos da indústria musical. Ainda que repletas de imperfeições, as gravações individuais do artista traduziram muito mais fielmente suas ideias que as tentativas em estúdios profissionais. O artista considera, atualmente, seu trabalho com o Distintivo Blue como 90% artístico e apenas 10% mercadológico, admitindo o pouco espaço ao blues autoral no cenário brasileiro. A intenção não é a fama, a aceitação ou o que se costuma denominar "sucesso", mas a expressão artística. A pandemia mostrou ser fundamental não "pôr todos os ovos na mesma cesta", isto é: não viver exclusivamente de música ou de qualquer outra atividade, sendo mais inteligente diversificar as fontes de renda. Desta forma, os conhecidos "perrengues" não possuem força suficiente para gerar tão grandes frustrações ou paranoias financeiras, que prejudicam (e muitas vezes mostram-se antagônicas a) o conceito artístico. Assim, o Distintivo Blue assume, definitivamente, o maior amadurecimento musical desde seu nascimento, enquanto um projeto artístico verdadeiramente independente e livre (inclusive de pessoas que "parasitam" boas ideias, impedindo-as de se desenvolver), bem distante dos difíceis tempos em que, enquanto banda "buscava incessantemente seu lugar ao sol" do music business.
Música é, antes de tudo, arte!
Arte é, antes de tudo, expressão!
Última atualização: 10/06/2023
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