Desde o Live Aid de 1985 celebra-se, por todo o planeta, o dia mundial do rock, provavelmente o gĂȘnero musical que melhor soube manter sua essĂȘncia ao mesmo tempo em que se adaptou aos incontĂĄveis contextos locais por todo o planeta. O rock enquanto sĂ­mbolo de rebeldia e negação Ă s geraçÔes anteriores jĂĄ nĂŁo Ă© tĂŁo jovem, mas certamente mantĂ©m jovem a mente de inĂșmeros senhores e senhoras, enquanto funciona como elo quando surge nas guitarras e fones de garotos sonhadores em seus quartos. 

Vale lembrar que o rock foi a trilha sonora de importantes transformaçÔes desde a segunda metade do sĂ©culo XX, como a rejeição ao racismo, a luta por direitos, a liberdade de expressĂŁo, a crĂ­tica social, a igualdade que hoje vemos expressa em nossa Constituição, por exemplo. Os roqueiros foram os pioneiros em levantar a voz e romper com velhos paradigmas num mundo abalado pelo pĂłs-II Guerra Mundial, onde a realidade deixou a ficção  a comer poeira, no quesito surrealidade.

ApĂłs tantas datas musicais comemorativas como o SĂŁo JoĂŁo, o Dia Mundial do Rock acaba por ser a redenção daqueles que curtem um som mais pesado. Assim, hĂĄ shows temĂĄticos em qualquer cidade, incluindo nĂŁo sĂł o dia 13, mas toda a semana. Em VitĂłria da Conquista, foram diversas as opçÔes, mas foi no ainda novo Fenix Rock Bar, Ășnico do gĂȘnero na cidade, que tudo pegou fogo, no melhor estilo rock n' roll: sem frescura e em alto volume. 

Considero o Fenix como herdeiro legĂ­timo do legado do falecido Paraki, local onde os roqueiros se reuniram por anos atĂ© o fim da dĂ©cada passada e que foi sinĂŽnimo do rock conquistense, assim como o programa O Som da Tribo e as prĂłprias bandas locais. LĂĄ nos sentimos em casa, encontramos amigos novos e das antigas, ao som da boa mĂșsica que nos interessa, o que Ă© cada vez mais raro em tempos como hoje. O grande diferencial do Fenix em relação ao Paraki Ă© a possibilidade de shows ao vivo, o que tambĂ©m remete Ă  Casa do Rock, importantĂ­ssimo local que mereceria um texto Ă  parte e que jĂĄ nĂŁo estĂĄ entre nĂłs hĂĄ algum tempo.

The Dug Trio

O som ficou sob o comando do Dug Trio, grupo acĂșstico, com trĂȘs vozes, formado por I. Malförea (Distintivo Blue), Bruno Greaser e Lavus Bittencourt (The Outsiders). Com violĂŁo, guitarra, cajĂłn, e gaita, os trĂȘs vocalistas, fizeram um mix de rock n' roll, blues, country, folk, dando uma pequena amostra do que estaria por vir. O show começou Ă s 21:30h ao som de Johnny Cash, variando o vocalista principal a cada mĂșsica, mas com os demais acompanhando com grande harmonia.

Uma hora e meia depois, Bruno e Lavus saem do palco, dando lugar a Camilo Oliveira (guitarra e voz) e Nephtali Bitencourt. O novo trio Ă© formado por membros da Distintivo Blue e se chama The JackHammers. Esta foi sua primeira aparição pĂșblica, preparando o pĂșblico para a primeira noite do Moto Rock 2019, que acontecerĂĄ de 19 a 22 de setembro no Centro Cultural Glauber Rocha. O grupo tocou cinco mĂșsicas, incluindo NJJJ, autoral, jĂĄ executada em shows pela Distintivo Blue desde 2014 e que estĂĄ entre as prĂłximas da fila a ganhar uma versĂŁo de estĂșdio.

The JackHammers

Em seguida, sĂŁo chamados ao palco Lavus Bittencourt e RĂŽmulo Fonseca, ex-guitarristas da Distintivo Blue, para uma reunion comemorativa pelos 10 anos da banda. No palco, trĂȘs guitarristas, um baterista e um vocalista/gaitista tocando apenas cançÔes autorais: Blues do Covarde (primeira faixa do primeiro EP, de 2011), Charity and Mercy (do disco Todos os Dias, Vol. 1, de 2015), O Álcool Me Persegue (da banda punk Cama de Jornal, gravada em 2012, no EP Riffs, Shuffles, Rock n' Roll, com a participação de Nem e Rose, autores da mĂșsica), Na Trilha do Blues (lançada no mesmo disco) e De Cara no Blues, faixa autoral da antiga banda The New Old Jam, que deu origem Ă  DB, lançado no mesmo EP de 2011.

Na plateia, muitos mĂșsicos, incluindo Nem (Cama de Jornal), que se juntou ao grupo e conduziu todo o bar em O Álcool Me Persegue. A DB nĂŁo se apresentava em pĂșblico desde o final de 2016, quando se desmembrou e permanece em pausa atĂ© o momento, mas ainda lançando material e planejando gravar novas mĂșsicas ainda neste semestre. No palco, os trĂȘs membros fundadores da banda: I. Malförea, RĂŽmulo Fonseca e Camilo Oliveira, que hĂĄ 10 anos faziam os primeiros ensaios, ainda buscando um formato para a banda, que possuĂ­a o nome provisĂłrio de Bluenote Band. O Fenix foi abaixo ao som do blues autoral do sudoeste da Bahia.

Todos reunidos para tocar e cantar Black Sabbath

A esta altura, jĂĄ madrugada adentro, os Joes deram lugar ao trio instrumental The Surf Riders, formado por Lavus Bittencourt (guitarra), Gleidson Ribeiro (baixo) e Ed Goma (bateria), todos membros da banda country The Outsiders. O grupo trouxe o rockabilly da melhor qualidade ao espaço, que mal teve tempo de recuperar o fĂŽlego. Isso Ă© o rock n' roll: mĂșsica bem feita, bem executada, sem subestimar a inteligĂȘncia de quem escuta. E tudo isso como uma grande diversĂŁo.

Bruno Greaser volta ao palco, completando os Outsiders. Agora Ă© a vez do country, um dos ingredientes essenciais do rock. A banda, Ășnica do gĂȘnero na cidade, foi formada em 2016 e arranca aplausos onde passa. Em seu repertĂłrio, tanto clĂĄssicos como Willie Nelson e Johnny Cash como bandas independentes, como Johnny Trouble (Alemanha) e The Railbenders (Colorado, EUA). Desta foi, aliĂĄs, a Ășltima faixa da apresentação, Whiskey Rain, que contou tambĂ©m com I. Malförea nos backing vocals.

Para finalizar o roteiro, The Dug Trio retornou ao palco, relembrando ZĂ© Ramalho, Deep Purple, Led Zeppelin, a Jovem Guarda (primeira manifestação do rock no Brasil), Raul Seixas, Belchior e diversos nomes que construĂ­ram a histĂłria do rock por aqui. o Bar ainda estava lotado e todos felizes por celebrar juntos a mĂșsica que amam e vivem.

JayVee foi um dos que continuaram a noite no palco

Este teria sido o final da noite, mas todos queriam mais: de improviso, I. Malförea (voz), Gleidson Ribeiro (baixo), Lavus Bittencourt (guitarra), Nephtali Bitencourt (bateria) e o pĂșblico (coral) tocaram, ainda, N.I.B. e War Pigs, do Black Sabbath. Em seguida, o cantor JayVee evocou Elvis com seu violĂŁo, acompanhado de Nephtali (bateria) e Malförea (baixo e backing vocal). Depois foi a vez de Renno Siqueira trazer o som do grunge, e vĂĄrios outros mĂșsicos continuaram revezando o palco atĂ© o fim da noite, que ficarĂĄ na memĂłria de todos por bastante tempo. Esse Ă© o poder do rock n' roll: o de reunir pessoas em seu nome e tornĂĄ-las um pouco (ou muito) mais felizes do que estavam. E o melhor: essa mĂșsica Ă© imortal! Long live rock n' roll!!!

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