Cena do vídeo, num show de 2016 |
Historiador que sou, e produtor da Distintivo Blue, sempre me preocupei em registrar ao máximo os principais momentos da banda. Durante muito tempo não tive um equipamento decente, então tratava de usar o que estava à mão, geralmente um celular ou uma câmera digital fuleira. Mas o REC estava sempre apertado. Isso começou na Tomarock, com uma câmera fotográfica ainda analógica, e na The New Old Jam, já com uma digital (mas fraquíssima) e um gravadorzinho de mini-k7 que levava pra qualquer canto e tinha uma qualidade de captação sofrível. Na Distintivo Blue só depois de muito tempo consegui um incrível e maravilhoso iPad 3, onde comecei a pensar na possibilidade de fazer vídeos, mas ainda faltava um PC decente, então nem liguei muito. Resumindo, hoje tenho um bom computador e câmeras decentes, além do meu amado gravador Zoom H4n, tão sonhado.
Só a partir de 2014 pude pensar em vídeos melhores, com esse iPad. Coincidentemente, foi quando a banda retornou de um hiato de 1 ano, logo após a gravação de 2012, Miopia. Por isso, apenas vídeos a partir desse ano (salvo uma exceção de 2011, numa tomada-referência à capa do EP Riffs, Shuffles, Rock N' Roll, de 2012) foram selecionadas para o lyric video de Charity and Mercy, lançado recentemente. Com a banda em mais um hiato, pensei: "que enorme desperdício ter tanto material interessante guardado e não usar em nada!". Então, como sempre faço, fui maquinando aos poucos, de forma quase inconsciente, o novo vídeo da DB. A escolha da música foi quase óbvia: é uma faixa que eu gosto, divertida, e ainda tem uma letra cheia de referências a nós mesmos.
Só que nunca estudei a fundo edição de vídeo. Primeiro por demorar demais para ter um computador que aguentasse fazer edição, e depois, por não ter lá paciência suficiente pra me debruçar sobre isso: ser músico independente demanda que façamos tudo, da poesia à burocracia, e edição demanda muito, mas muito tempo. Aprendi um básico do básico, de acordo com o surgimento das necessidades e assim também foi com o Corel, o site, a zine, tudo. Não tenho a menor noção de animação, então o lyric video deveria ser bem simples, mas com meu estilo: detalhista, mas limpo.
Foram selecionados nada menos que 116 vídeos que busquei cuidadosamente nos diversos HDs com material da DB. A pasta com essa seleção pesa 76GB. A maioria é de vídeos curtos, feitos com tablet, celular, câmera DSLR e câmera de ação. Alguns, como os da série CCCJL Sessions são originalmente em preto e branco, o que me fez ter dificuldade em pensar como padronizar todos. Fiz uma experiência com o preto e branco e decidi manter o vídeo inteiro assim. Perdi muitos detalhes, mas ganhei tempo ao não ter que me debruçar sobre cada vídeo tentando fazer algo que eu ainda não sei fazer.
Por sorte, eu tinha uma gravação da banda tocando a própria música numa festa fechada, e Rodrigo ainda puxou a introdução mais ou menos no mesmo beat da versão gravada. Foi a introdução do vídeo, única parte em que um músico está sincronizado com o que há no áudio. Funcionou para o que eu queria. Como a banda estava praticamente morta, só comigo como integrante, ficaria estranho e pobre só ter eu aparecendo, então surgiu aí a ideia de homenagear o grupo, mostrando todos os que passaram por ele desde 2013, incluindo parceiros, como o cineasta Diego Eleutério (do clipe de Ame a Solidão) e minha namorada, Naiane Nunes (que aparece no mesmo clipe).
E temos bichos! E crianças! Encontrei uma cena em que um cachorro se aproximou de mim no palco, um vídeo de uma aranha "lanchando", que havia filmado aqui em casa, provavelmente no ano passado, uma borboleta idem, minha gata Nunos (único gravado em 2018) desfilando no muro e uma ossada de tiranossauro, gravada por meus pais no Museu de História Natural, em Nova Iorque. Grande achado foi o de uma menina dançando em frente ao tablet num dos ensaios abertos da banda, em 2014. Deu o tom divertido que eu precisava. Geralmente as crianças adoram os shows da DB, por sinal. Aproveitei também algumas tomadas externas que não entraram no clipe de Ame a Solidão.
Usei vários vídeos que não entraram nos clipes de Ame a Solidão e Na Trilha do Blues, o primeiro com imagens de Filipe Sobral e Diego Eleutério e o segundo por Thomaz Oliveira e Date Sena. Fica a dica para os músicos independentes: quando for produzir algo, peça todos os arquivos aos seus parceiros. Eles sempre terão utilidade. Tenho tudo aqui guardado, e o mesmo vale para as músicas gravadas em estúdio. Mas, a maioria dos vídeos foi feita por mim mesmo, posicionando a câmera num canto e partindo pra meu posto no "cenário". Faça você mesmo!
Levei quase uma semana desde o momento em que tomei a iniciativa de procurar o material até o lançamento. Decidi fazer um pouquinho por dia, sem pressa e sem me cansar. Criei as letras no Corel, e dividi a música em três partes: fiz uma por dia, sendo que, no último, a empolgação me fez finalizar tudo de uma vez. O resultado me satisfez. Foi exatamente o que eu havia imaginado, ou talvez melhor. A música ajudou bastante. Ao todo foram 73 arquivos de imagem para criar desde o logotipo inicial, as letras e o logotipo final. Ainda pretendo lançar uma versão colorida, talvez com a versão sem voz da música (álbum Shut Up!, de 2017), só por curiosidade mesmo.
Enfim, esta foi uma forma de homenagear a banda e os fãs. Ainda há muuuuuito material guardado e inédito e, aos poucos, penso em formas de publicar. A própria banda não deixou de existir: ainda há várias músicas prontas e não-gravadas e várias incompletas. Quem sabe este não foi o pontapé inicial de um retorno? (mistério!)
I. Malforea
I. Malforea
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